A Leis do vinho “Wine Laws” dos Estados Unidos

*Stefan Massinger

 

As wine laws americanas. Impossível falar em vinho norte-americano sem mencionar as chamadas “wine laws”. O país regula a vitivinicultura em duas esferas: Federal e Estadual. – Achou só no Brasil leis são algo complexo? – Veja só então como os Estados Unidos tratam este assunto, regulam produção, consumo e taxação do vinho.

A atividade vitivinífera foi regulada por legislação federal inicialmente pelo BATF – Bureau of Alcohol, Tobacco and Firearms, órgão que, em 1978, instituiu o sistema de AVA – American Viticultural Areas (programa Americano de Áreas de Viticultura) para suplementar um sistema de denominações pré-existente. Atualmente, essas prerrogativas foram transferidas para o Alcohol and Tobacco Tax and Trade Bureau – TTB, que detém a função de definir e controlar as AVAs. Na prática, o selo AVA serve para garantir a procedência do rótulo, mas não guarda qualquer relação com qualidade ou com a produção da bebida. Fato é que se um vinho exibe o selo AVA em seu rótulo, pelo menos 85% das uvas utilizadas em sua elaboração devem ser provenientes daquela área específica. – Resumindo, é a tentativa americana de controlar e garantir a qualidade de vinho similar os selos como D.O.C. e D.O.C.G europeia.

Em se tratando de legislação estadual, como acontece com a maioria dos assuntos nos Estados Unidos, cada lugar tem suas regras, que variam consideravelmente nos estados. – Resta para consumidor comparar um por um para entender “o que” e “por que” esteja regulado.  Cada um dos leis e regulatórios tem regulamentações a respeito de venda e distribuição de bebidas alcoólicas e, em se tratando de vinhos, tais normas abrangem aspectos específicos da vitivinicultura. Por exemplo, enquanto no Oregon os vinhos varietais devem conter pelo menos 95% da casta indicada no rótulo, em Washington e na Califórnia esse percentual é de 85% e, ainda, em muitos outros estados a exigência cai para 75%. Ou seja, um Cabernet Californiano pode muito bem contem 15% de uma outra uva, e em outros regiões até 25% e ainda está considerado varietal Cabernet Sauvignon. Coisa, que em algumas regiões europeias já seria considerado um blend, corte ou cuvée. (vinho feito de 2 ou mais tipos de uvas)

Para entender um pouco destas regulatórios vamos destacar California e o mapeamento dos diversos AVAs feito pela Universidade Californiana de Davis. Com uma extensão de aproximadamente 1.100 quilômetros de norte a sul, na Califórnia há uma série de microclimas, mas o fator comum a todas essas áreas é a falta de chuva durante a época de amadurecimento das uvas. Devido a essa condição, a maior parte das vinícolas, que estão distribuídas por todo o estado, conta com sistemas de gotejamento ou de aspersão de água em seus vinhedos; são raros os vinhedos sem irrigação.

A faculdade de enologia da Universidade da Califórnia, em Davis – UC Davis -, realizou uma grande pesquisa tendo como objeto a adequação de vinhas aos microclimas californianos, baseada na temperatura, criando uma espécie de sistema que os divide em uma escala de cinco zonas, indo da Zona I – a mais fria – até a Zona V – a mais quente. A partir desse estudo, todas as áreas com potencial para a vitivinicultura foram classificadas e as cepas mais adequadas a cada uma dessas áreas foram identificadas. As Zonas I a III são consideradas as com maior vocação para a produção de vinhos de qualidade superior.

As correntes marítimas vindas do Oceano Pacífico exercem grande influência sobre o clima. Durante as manhãs, verifica-se brisa e neblina frias, que não só criam amplitude térmica, como também umidade necessária para a manutenção das vinhas. Os períodos de neblinas são especialmente importantes no final do mês de maio e no início do verão, quando o solo aquece e cria brisas que atraem para o continente os nevoeiros vindos do mar, fato que confere elegância ao vinho. Nas áreas onde não se verifica esse fenômeno, as temperaturas com frequência chegam a atingir 40 graus Celsius no verão.

 

 

* Stefan Massinger nasceu na Áustria, sul de Viena, numa região de vinhos. Vive em Caraguatatuba, sendo master do grupo Wine, o maior e-commerce de vinhos da América Latina, treinando interessados como empreender no mundo do vinho. Também tem uma empresa de venda de vinhos on-line e atua também como consultor independente de negócios.

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