Capela em Caraguá continua esquecida

Há cerca de dois anos registramos que a história da região perde-se diariamente por falta de cuidado, de incentivo, de amor ao passado. Neste período o Turismo continua padecendo de organização e estrutura e a religião, está cada vez mais com menor espaço no coração das pessoas. O que continua também é o desprezo pela história e identidade Religiosa do Litoral Norte, mais precisamente em Caraguatatuba, onde a Capela de Nossa Senhora das Necessidades continua abandonada na Estrada do Kartódromo, no bairro do Tinga, na zona sul da cidade.

Em Agosto de 2018 retratamos o abandono das Capelas do Bom Jesus, no bairro da Enseada em São Sebastião e a de Nossa Senhora das Necessidades no bairro do Tinga em Caraguatatuba. Atualmente a única exceção foi a Capela da cidade vizinha, que agora reformada e revitalizada irá se tornar um Museu, um Memorial da História e Cultura Caiçara.

A falta de visão e de fé continua em Caraguatatuba quando nos referimos a Capela da Fazenda Poyares, Capela do Tinga ou Capela de Nossa Senhora das Necessidades, construída em 1952 pelo dono da Fazenda Poyares, Eduardo Correia da Costa e sua esposa Laura Correia da Costa e inaugurada no ano seguinte. Dona Laura, como era conhecida, teria ganho a imagem de Nossa Senhora das Necessidades como presente de casamento e resolveu introduzi-la na capela construída pelo marido.

Nossa Senhora das Necessidades é venerada na região da Soalheira, em Portugal desde 1685 e segundo a sua história, teria ajudado Don João 5º a melhorar de uma grave doença e ele, como retribuição, teria mandado erguer um rico templo que pertenceu a família real até 1910. Outro fato pertinente diz respeito a invasão francesa em 1808, quando Portugal foi devastada pelas tropas de Napoleão e só a comunidade da Soalheira foi poupada, pois a santa teria enviado um denso nevoeiro, que teria escondido a cidade e feito os soldados franceses passarem ao largo sem perceber o povoado.

O assunto tornou-se público em Agosto de 2018 através das Redes Sociais, na página “Caraguá de Antigamente”, no Facebook, onde ao publicar uma foto do local, diversos membros do grupo e moradores antigos da cidade começaram a opinar sobre o assunto.

São muitos os fatos e histórias ligadas a Capela. Conta-se que sobreviveu a Catástrofe de 67, que várias novenas feitas pelo Monsenhor Gabriel além de Congadas foram realizadas no local. Há lembranças de casamentos, das missas aos domingos e das aulas de Catecismo que culminavam com jogos de futebol no terreno que fica em frente a Capela.

A Capela tem cerca de 48 metros² e um dos últimos registros foram de um casamento nos anos 1970. Infelizmente a imagem foi destruída por vândalos mas o sino foi retirado e encontra-se salvo na sede da Fazenda Poyares, guardada pelo seu gestor, Eduardo Meirelles, bisneto de Eduardo Correia da Costa. Atualmente há um morador no local, num acordo de comodato feito entre o gestor e o morador. Antes disso era refúgio de drogados.

Na década de 90 o administrador do Kartódromo, Alberto Irias Júnior realizou uma pequena reforma no local, que se perdeu com o tempo.

Eduardo Meirelles – o Duduca, gestor do espólio da Fazenda Poyares conta que entre as décadas de 70 e 80 foi feito um Comodato com a Igreja Católica para o seu uso por um período de 30 anos a qual nunca foi usado. Meirelles conta que os bancos da Capela foram levados pela Igreja para o Sertão da Quina, em Ubatuba, onde a Diocese mantêm um retiro há décadas e mesmo com o fim do Comodato, feito antes de 1994 por Paulo Meirelles, pai de Duduca, nunca retornaram à Capela.

Duduca narra também um outro fato vinculado a Capela de Nossa Senhora das Necessidades, que se não for interessante, pode ser considerado como pitoresco. Ainda na época que o Padre André era o pároco da Matriz de Santo Antonio a mãe de Duduca – Maria Lúcia Meirelles – e o Padre entraram num acordo para a reforma da Capela e ela resolveu fazer uma Quermesse para angariar fundos. Ao final da Quermesse, no dia seguinte, o Padre estava na porta da casa de Maria Lúcia para pegar o dinheiro. A mãe de Duduca não entendeu ou aceitou pois imaginava usar o dinheiro para iniciar a reforma, com a igreja entrando com o que faltasse. Na ocasião o Padre explicou que o dinheiro arrecadado deveria ser enviado para a Cúria em Santos – sede da Diocese na época – para depois ser avaliado e aí sim, reenviado para a reforma. Dona Maria Lúcia não aceitou, fez a reforma com o dinheiro arrecadado e ainda completou com recursos próprios.

Assim como em 2018 e nos dias de hoje a Igreja Católica, através da Diocese de Caraguatatuba não reconhece as Capelas de Nossa Senhora das Necessidades e do Bom Jesus da Enseada. Segundo a Comunicação da Diocese a Igreja Católica não reconhece as construções, pois são consideradas como “Capelas Particulares e Caiçaras” e por isso não entram no rol de templos na região. Ao mesmo tempo alegam que as comunidades próximas as Capelas foram supridas por outros templos construídos a menos tempo. Reitera a Diocese afirmando que não tem verba ou intenção de fazer qualquer movimento em reformá-las.

A Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Caraguatatuba informou na época que a reforma da Capela do Tinga é uma atribuição da Diocese e caso ela queira poderia até auxiliar, desde que a Diocese tenha interesse e faça tratativas sobre o assunto. Atualmente o assunto deve ter se tornado desinteressante, tendo em vista a Pandemia do Covid-19 e a queda na arrecadação.

A única exceção neste período é quanto a Capela de Bom Jesus da Enseada, que agora foi reformada e revitalizada e fará parte da Rede Municipal de Museus em São Sebastião, transformando-se num Memorial da História e da Vida Caiçara, com espaço para estacionamento, feiras de artesanato e eventos culturais, dentre outros.

Assim como foi afirmado no início do texto, continua a falta de incentivo, de fé e de visão empreendedora que enterram cada vez mais o que poderia ser mais um nicho voltado para o Turismo. A reforma da Capela, aliada a revitalização da estrada que leva ao Kartódromo e ao empreendimento em si traria turistas de um nicho específico – Religioso e Esportivo -, além de revitalizar um esporte que é tradicional no Brasil, como berço de campeões mundiais de automobilismo, adicionando mais elementos para melhorar a base da economia de nossa cidade, além de, é claro, criar mais alternativas para o cultivo da fé cristã no município.

Resta saber quando as autoridades irão acordar e tratar deste assunto com o devido respeito e prioridade que merecem.

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